Só tratar esgoto não recupera rios

- 09/06/2009 - 09:34:46

Revitalização dos córregos que cortam a cidade depende da eliminação de erosão e de lixo e do replantio de mata ciliar.

Há mais de dez anos, o córrego Barreirinho – que divide o Jardim Flórida e o Núcleo Beija-Flor, em Bauru - não recebe esgoto. Ele foi um dos primeiros a ter interceptores de efluentes instalados em suas margens. Porém, a falta de conscientização dos moradores dos bairros próximos, que usam as margens do córrego como depósito de lixo, impede que o Barreirinho se recupere. A situação desse córrego mostra que, apesar do tratamento de esgoto ser um passo importante para a revitalização dos corpos d’água que cortam a cidade, ainda é preciso investir na recuperação das matas ciliares, eliminação de erosões e o mais importante: na conscientização da população.

O prefeito Rodrigo Agostinho destaca que a degradação dos córregos de Bauru remonta a década de 50. -A cidade de Bauru cresceu num espaço entrecortado por 11 córregos. A população foi ocupando esses fundos de vale, jogando esgoto nos córregos mais próximos. Esse foi o processo de ocupação dos últimos 60 anos-, explica.

O desafio agora é desviar o esgoto lançado em cada um desses córregos e, na próxima etapa, tratá-lo. Para isso, o Departamento de Água e Esgotos (DAE) investe na implantação de interceptores de efluentes. A diretora de divisão de planejamento da autarquia, Nucimar Paes, explica que os interceptores são tubulações instaladas nas margens dos corpos d água que coletam o esgoto lançado pelos dos imóveis e os transportam até o local onde será tratado.

Desta forma, o interceptor evita que o esgoto caia no rio. Até a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Vargem Limpa, no Distrito Industrial 1, os efluentes da cidade serão despejados no rio Bauru.

Atualmente, entre os córregos já livres do esgoto estão o Água da Forquilha, o Água do Sobrado, o Água do Castelo, o Palmital, o Ribeirão das Flores, o Barreirinho, entre outros. Equipes do DAE trabalham na instalação dos tubos coletores no córrego da Grama atualmente. De acordo com a autarquia, metade dos quatro quilômetros de interceptores está pronta. -Quando esse trecho for concluído, vai desafogar uma região onde 40 mil pessoas convivem com esgoto por falta de interceptor-, aponta o prefeito.

Ele destaca que quando toda a rede estiver pronta – o que está previsto para 2011 - o bauruense já vai perceber a diferença. -O benefício de saneamento da cidade é imediato. A população imediatamente terá água limpa nos córregos, que é o que acontece com os que já têm interceptores. Alguns até já têm peixinhos. A recuperação de vida é muito rápida-. No Água da Ressaca e no Água da Forquilha já é possível observar vida aquática.

Porém, Agostinho destaca que apesar de livres de esgoto, estes córregos não podem ser considerados recuperados. -Retirando o esgoto, a água fica limpa, mas precisamos acabar com lixo e erosões e reflorestar as margens. Vai ter que recuperar esses fundos de vale, criar parques-, enumera.


Lixo e assoreamento -matam- córregos

Os córregos onde o Departamento de Água e Esgoto (DAE) já instalou os interceptores deveriam estar limpos. Mas a realidade é outra. No córrego Barreirinho, a população se livrou do cheiro do esgoto, mas convive com lixo e animais que proliferam nos entulhos depositados em suas margens.

-A população deve se conscientizar que não é o rio que leva o lixo embora. São os caminhões da coleta da Emdurb (Empresa Municipal de Desenvolvimento urbano e Rural de Bauru)-, enfatiza Nucimar Paes, diretora de divisão de planejamento da autarquia. Ela explica que a decomposição do lixo jogado no rio também causa poluição. -E essa poluição é até pior que o esgoto em si-, pondera.

Com os interceptores, as águas dos córregos se tornam livres das doenças provocadas pelo esgoto, àquelas que podem ser transmitidas por fezes humanas, por exemplo. Mas ela lembra que o lixo depositado nos córregos acaba levando à proliferação de animais como ratos e, conseqüentemente, das doenças transmitidas por eles.

O auxiliar de cozinha Antônio Marcos da Silva, que mora na quadra 3 da rua Francisco Maiolo, nas margens do córrego Barreirinho, conta que o bairro ficou livre do cheiro do esgoto, mas continua sofrendo com o despejo de lixo na água. -Antes, o verão aqui era insuportável. Quando o sol batia forte, o cheiro era triste. Mas agora o grande problema é o lixo. Tem gente que desce o morro só para jogar aqui (no rio)-, conta.

Na quadra ao lado, o casal Juliana Karin Pola e Rosevaldo Ramos também sofre com o entulho acumulado. -Hoje (ontem) mesmo encontramos um escorpião na frente de casa. Juntei tudo, rastelei. Mas por mais que você limpe, o pessoal volta a jogar lixo-, lamenta. Para Ramos, falta educação. -O pessoal tinha que ser mais consciente. Mas parece que não adianta. Por isso estamos loucos para nos mudarmos daqui-, revela.

No Jardim Nicéia, onde parte do córrego Água Comprida já tem interceptores de esgoto, o problema é o assoreamento. Logo na nascente, que está canalizada, a proliferação de taboas impede que o curso d água siga normalmente. -O rio não era nesse lugar, era mais para o lado. Eu costumava vir nadar aqui, mas agora não tem mais jeito-, lamenta Daiane Silva Ferreira dos Santos, 11 anos, moradora do Jardim Nicéia.


Novos investimentos serão necessários

O biólogo Ivan de Marche, do Fórum Pró-Batalha, avalia que a recuperação dos córregos de Bauru vai além do tratamento de esgoto. -Por se tratar de córregos na área urbana, além do esgoto, eles sofrem com a poluição da cidade, com o lixo, entulho, e a retirada da vegetação-, enumera.

-Além disso, o problema do assoreamento é grave, pois muitos bairros da cidade ainda não possuem galerias de águas pluviais. Então, a enxurrada provocada pela chuva chega com muita força nos córregos, aumentando a erosão e o assoreamento-, explica.

Marche explica que assim que o despejo de esgoto no córrego for interrompida, ele começa a se regenerar. -Em menos de 15 dias, nos riachos de pequeno porte - aqueles que têm de 30 a 40 centímetros de largura - você já consegue observa girinos e peixes-, explica. Segundo o biólogo, os peixinhos são indicadores da boa qualidade da água. -É que numa escala de oxigenação que vai de 0 a 10, eles sobrevivem a partir do sexto grau-, observa.

Para que o córrego seja revitalizado, é necessária a recuperação de sua mata ciliar. Marche informa que o Pró-Batalha, em parceria com o Instituto Ambiental Vidágua, plantou mudas em 30 hectares distribuídos entre as margens dos córregos Água da Ressaca, Água da Forquilha e Barreirinho. -Mas em alguns pontos o trabalho terá que ser refeito. Eles sofreram uma degradação depois da recuperação-, explica.

Em muitos riachos de Bauru, o processo de revitalização deve começar com a remoção de favelas de suas margens. -Quando a Estação de Tratamento de Esgoto começar a funcionar, a prefeitura terá que dar início à recuperação dos fundos de vale da cidade. Reverter as erosões, eliminar o assoreamento, replantar árvores, remanejar moradores das favelas-, elenca Marche. -Aí o trabalho envolveria outras secretarias da prefeitura e o investimento seria muito maior-.

Apesar do processo caro e demorado, Marche avalia que ele poderá ser feito em partes. -Não precisa recuperar os 10 fundos de vale de uma só vez. Em breve, com a avenida Nações Norte, teremos a recuperação do fundo de esgoto Água do Castelo. Se cada gestão fizer uma revitalização de córrego, Bauru só tem a ganhar-, afirma.


Obra segue com instalação de interceptor

Quem passa pela rua São Sebastião pode acompanhar de perto o trabalho da equipe do Departamento de Água e Esgoto (DAE) na instalação de quatro quilômetros de interceptores de esgoto, que evitarão que o material seja despejado no córrego da Grama. A previsão é que até outubro ele esteja livre de efluentes.

O DAE informa que em toda a cidade já foram instalados 55 quilômetros de interceptores dos 92 previstos. Quando tudo for concluído, a extensão de tubulações instaladas na cidade será equivalente à distância entre Bauru e Botucatu.

Agora o DAE trabalha para terminar a instalação de interceptores em trechos que faltam nos córregos Água do Sobrado e Água Comprida. Ainda neste ano está previsto o início da licitação para a maior obra de implantação de interceptores na cidade: o trecho do rio Bauru da avenida Nuno de Assis.

-A avenida vai se transformar num verdadeiro canteiro de obras-, destaca o prefeito Rodrigo Agostinho. Outros grandes empreendimentos previstos este ano são a conclusão da Estação Candeias, no Núcleo Gasparini, e a reforma da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Tibiriçá.

-Tudo pronto, faltará a execução da ETE Vargem Limpa. O esgoto não estará na cidade, mas continuará sendo lançado para frente do Distrito Industrial 1-, frisa.


Estação do Gasparini

A construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Candeias, no Núcleo Gasparini, está parada. O serviço foi interrompido com apenas 27% das obras executadas. Para finalizá-la, o Departamento de Água Esgoto (DAE) deverá investir mais de R$ 2,7 milhões. De acordo com o prefeito Rodrigo Agostinho, o edital para a retomada da construção está previsto para o final da próxima semana.

Já o edital do projeto executivo para a construção da ETE principal, no Distrito Industrial 1, deverá ser publicado até o final do mês. -Por se tratar de uma obra muito grande, teve de ser muito bem estruturado-, ressalta Agostinho.

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Lígia Ligabue
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